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Relatos



Esta página será dedicada aos relatos de pessoas e instituições referentes às nossas Ações Educativas
Para ter seu relato publicado, basta enviá-lo para educativo@inima.org.br com o título "relato".
Envie-nos também imagens captadas durante as visitas ao Museu ou referente a alguma atividade relacionada desenvolvida posteriormente. Teremos um enorme prazer em publicá-las!


Sobre a educação do olhar*



"Neste texto pretendo humildemente falar das várias faces do arte educador, ou melhor, os vários "eus" que nos conceituam no espaço museológico.
Sobre presenciar o espaço ou mapear antes da fala coloco o arte educador como um desbravador, o curioso à procura de compreender e reorganizar o espaço do museu.Tal espaço, me faz refletir, antes de mais nada todas as minhas proposições.
Dominar cada canto do museu para depois ser dominado por ele onde é necessário impreterivelmente o questionamento e não as respostas. Sobre guardar e privilegiar o que é nosso ou simplesmente guardar em caixas que chamo de "olhos".
Preservar e respeitar qualquer imagem que me faça refletir onde na mesma forma sou reflexo que é produzido e exposto para o bem cultural, ou seja, o que está exposto reflete o mundo onde vivo. Então por isso, é digno de compreendê-la."



*Texto escrito pelo Arte Educador do Museu Inimá de Paula - Pedro



Diálogo *

Um homem se propõe a tarefa de esboçar o mundo. Ao longo dos anos povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naves, de ilhas, de peixes, de habitações, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto.
                                                          (O fazedor, Difel, São Paulo, 1984)
Diálogo I: para a ingenuidade da linha.
- Ei, Sophia já terminou seu desenho?
- Não! (me responde com tom forte e de certeza, como se eu não tivesse percebido, seu desenho em processo).
Diálogo II: lembranças de origem moderna.
        Ao abordar Sophia, uma menininha de apenas quatro anos, pensei simplesmente no sintetismo, da linha pura, do traço livre, harmônico. Ordens e pensamentos naturais, algo intrínseco a ela, acredito eu! Sophia estava ''reformulando'' seu pai que estava sentado a sua frente onde tentava fazer o mesmo. Digo reformular no sentido de redefinir uma forma ''mais'' assimilável, de fácil compreensão no total nexo da palavra e principalmente no seu sentido estético. Dessa forma, ela estava conhecendo, descobrindo, ''pesquisando'' seu pai através da linha, da cor, da ordem da figura sobre o papel. Questões que permearam nas práticas das oficinas.
       Ao analisar seu desenho, vieram os questionamentos: por que as escolhas das cores, a centralidade da figura, por que uma menina de apenas quatro anos fez somente a figura de seu pai, e não objetos que remetia a ele ou talvez, flores, sol, nuvens, etc.
Dessa forma, eu como apreciador e estudante de arte, questiono as particularidades dos retratos. Um tema tão comum ou até mesmo trivial durante diversas épocas da história da arte. Retratos que falam das deficiências humanas, de glórias, poderes. Nas quais, afinidade e identidade são particularidades recorrentes ou talvez as mais importantes na execução de um retrato. Será que Sophia se via, através do desenho de seu pai? E seu pai, ao desenhar Sophia não se via multiplicado, desconstituído? Acredito que é de extrema necessidade o homem se ver múltiplo, configurado em outros planos físicos ou conceituais. Eis um papel da afinidade em um retrato, a possibilidade de ser no outro alguma configuração sua, seja ela física ou conceitual para uma reformulação plástica. Nas conceituações do dicionário, afinidade tem seu sinônimo com simpatia, que significa inclinação recíproca e instintiva entre duas ou mais pessoas. Compor-se, constituir-se, será que nos constituímos apenas com as características de uma carteira de identidade, por exemplo? Identidade pra ser único, ou seja, um ‘’indivíduo’’? Ou identidade para ser idêntico universal? Identificar pra ser ‘’reconhecido’’, visto como tal. Ao resgatar o poder da cor nos quadros de Inimá, Van Gogh, dentre outros artistas onde a cor, tem expressão máxima para conceituar o que conhecemos por sentimentos e sensações, penso na potencialidade da identidade como uma simbologia visual nas produções de retratos e auto – retratos. O que faz, ou melhor, o que propõe o azul bic de Inimá? E o amarelo limão de Van Gogh? O indivíduo falando para o coletivo. O ato ou a criação subjetiva única do artista para uma discussão coletiva do espectador! Divagações, que se tornam concretas quando apresento uma pintura de um retrato de Inimá feita por Takaoka aos visitantes. E pergunto a eles se há possibilidades de se conhecer Inimá, seu jeito e seus traços de personalidade através das cores feitas pelo artista Takaoka. As respostas e percepções são surpreendentes!
                                                     Sophia durante seu processo criativo


* Relato escrito pelo arte-educador Pedro referente à atividade de férias realizada com escolas e visitantes espontâneos no Museu Inimá de Paula .





Para uma vivência plástica*


Texto referente à visita com o grupo EJA

Em primeiro lugar, quero ressaltar a grande experiência de responsabilidade ao abordar aos assuntos de arte contemporânea com grupos. Por esse motivo penso ''ainda''que sou uma ponte em meio a tantos pesos nas costas.

Mas ainda são pesos que me faz permanecer em pé, ou seja, a educação me transcende.

Apresentar um trabalho plástico contemporâneo ao grupo foi de extrema responsabilidade. Muitos nunca tiveram contato com linguagens tão diferentes (monstros que nos assustam). E que nos provocam tanta re-ação (falo de um desgosto da imagem). Mas são estas re -ações que nos aproximam, mesmo que demore, mesmo que seja tão doloroso. O gosto é uma questão de costume, familiarizar-se com a obra é uma tarefa que se devem quebrar paradigmas.

Evidenciar e aproximá-los da obra de Pablo Lobato no começo me pareceu quase impossível... Foi simples como apresentar, um amigo ao outro, mas foi de uma extrema intensidade e sensibilidade como aproximá - los a abrir uma janela que lhes permitiam o acesso ao mundo que provavelmente, já fazia parte do cotidiano de todos, até então visto, mas não percebido em sua total plenitude poética. Fato que acredito numa educação que passe pela vivência - o homem não consegue ou não procura enxergar aquilo que já está inerente no pensamento e no seu interior como todo. Questionar as próprias ações corriqueiras do grupo foi um caminho ao entendimento, ou melhor, à ''aproximação'' com a obra desconfigurando todo aquele medo que os permeavam.

Já dizia meu querido Roland Barthes que a união de A + B de certas linguagens resulta em C, não AB. Isso esclarece bem o que aconteceu no final da visita: houve um contato tão intenso entre o grupo e a obra que resultou em algo em C, que não me esclarece, ou não me diz respeito neste breve relato. Mas de qualquer forma eu estava fazendo parte dessa ação e agradeço ao grupo e ao Pablo pela nossa incrível troca de papéis.

* Relato escrito pelo arte-educador Pedro referente à visita com a E.M. Cônego Raimundo Trindade - Educação para Jovens e Adultos (22/05/10)