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Leituras de Inimá - Sobre outros artistas

Alguns cursos livres na escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, como a disciplina de Pintura, eram lecionados por Inimá de Paula.
No planejamento de suas aulas e grade curricular, Inimá elaborava estudos pessoais sobre as obras de outros artistas, alguns, muito conhecidos pelos admiradores de arte, estudantes e demais integrantes dessa área.
Publicaremos nessa página os estudos manuscritos por Inimá de Paula, juntamente com as obras as quais ele se refere. Lembramos que são estudos e críticas pessoais do artista, publicadas no blog para conhecimento sobre Inimá, arte e pensamentos da época.

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 Começamos com Van Gogh :

Por Inimá:
"A partir do impressionismo e do neo-impressionismo, Van Gogh desenvolveu um expressionismo de um ritmo linear, fortemente colorido. Ele transformou a estática do neo-impressionismo, que se apoiava numa ciência cromática, em uma dinâmica dirigida por sentimentos subjetivos. O pequeno ponto de cor do pontilhismo foi aumentado por Van Gogh e por ele utilizado na textura de suas superfícies coloridas. Ele empregava tais texturas como meio de ritmar e de intensificar as cores. As pinturas de Van Gogh são desenhadas como por um movimento de escrita e a distribuição das cores é determinada por seu sentimento da expessão. A maior parte de seus quadros são de uma pujança de expressão emocionante. As cores são, a nosso ver, discordantes.
O presente quadro mostra uma calçada de um café vivamente iluminada, em uma rua escura, à noite. A calçada banhada de uma luz quente é pintada, sem que sejam representadas luzes, em amarelo e alaranjado. Estas cores claras contrastam com as casas escuras e o céu noturno azul violeta salpicado de estrelas. A rua calçada é para Van Gogh uma superfície com textura de pontos e traços amarelos, alaranjados, azuis-claros e pretos. O azul-violeta de céu se repete à esquerda  no portal. Manchas alaranjadas isoladas, na fachada dos edifícios , aul-preto, indicam locais iluminados. Na profundeza da rua escura se perdem alguns personagens. Na ponta da calçada estão assentados os últimos fregueses. As mesas e as cadeiras vazias na rua, as pessoas que voltam para suas casas e as raras janelas iluminadas exprimem o isolamento e o abandono. Em outros quadros de Van Gogh como "O semeador" , " A poltrona amarela", " O velho assentado", encontra-se também a imagem de sua própria solidão.
Neste quadro, Van Gogh relaciona a altura do céu noturno com a pequenez das pessoas e seu aprisionamento neste cenário que elas próprias escolheram. A luz artificial opõe-se ao brilho inextinguível das estrelas. Assim, cada ponto desta pintura é penetrado de um fluido originado da personalidade nervosamente excitada do pintor.
A cor principal amarela forma com o alaranjado da calçada um contraste simultâneo com relação ao azul-violeta do céu. Em vez de violeta e azul, Van Gogh colocou um azul violeta que faz realçar tanto o amarelo quanto o alaranjado. Esta vibração é acrescida pelas relações quantitativas não equilibradas. O amarelo vivo e o laranja exigiriam uma quantidade bem maior de azul-violeta para dar um equilíbrio harmonioso. O verde-amarelo das paredes e o verde-escuro da árvores salpicada de manchas e de traços vermelhos produzem assim um efeito de contraste simultâneo. A assimetria da composição do quadro reforça o efeito colorido.
*Ao amarelo seria complementar o violeta, e ao alaranjado, o azul."

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Paul Cézanne

Por Inimá:


"Cézanne disse que queria fazer do impressionismo algo de "sólido" .Suas telas deviam ser compostas de maneira tão lógica quanto as clássicas. Por construção lógica, ele compreendia a disposição da tela em planos nitidamente estruturados, a geometrica desenvolvia de acordo com as relações do círculo cromático.
Assim, examinando a presente paisagem, percebe-se claramente sua organização a partir de três planos horizontais. É mais difícil de perceber nela a geometria e o ritmo das formas naturais da paisagem. Se colocarmos um papel transparente sobre p quadro e desenharmos todas as linhas e manchas nitidamente destacadas sem procurar formas de objetos, ficaremos admirados de encontrar, sobre o traçado feito, rítmos e formas que fazem a combinação harmoniosa da composição de Cézanne.
A composição colorida desta pintura pode ser analizada da seguinte maneira:
As quatro cores mais utilizadas são ordenadas em três planos separados.
No primeiro plano, encontramos marrom-violeta suave, o amarelo-verde e alaranjado predominam no plano médio,  o azul, no fundo.
O vermelho violeta, amarelo-verde, e o alaranjado-azul são dois pares de cores complementares que se acham associadas em complicadas modulações.
A palavra modulação foi criada pelo próprio Cézanne para sua pintura.
No primeiro plano, o marrom-violeta e modulado em numerosos tons até o marrom-vermelho e azul-violeta.
Estas cores são além disso, apagadas luminosas alternadamente.
Os tons azuis apagados completam a combinação escura.
No plano médio, em que predominam o amarelo-verde e o alaranjado, o amarelo-verde é modulado para o amarelo e o azul-verde e o alaranjado, para o amarelo e o vermelho-alaranjado.
Nascem assim séries cromáticas do vermelho-alaranjado, pelo amarelo ao azul-verde.
As vezes são colocados diretamente destaques azuis-claro ao lado do alaranjado complementar, como com a mancha alaranjado-amarela a direita da borda do quadro. As pequenas machas azuis frias contribuem grandemente para a combinação rítimica de cores do plano medial aumentam a luminosidade do alaranjado.
O céu e a montanha do fundo são de uma coloração azul.
O azul claro é modulado para o verde claro e o violeta claro, na forma violeta-claro da montanha se refletem tons quentes alaranjados-marrom.
Na região do céu, alternam-se manchas luminosas azul claro, azul verde e cinza apagado.Uma maravilhosa riqueza de modulações das cores revela nesta tela e a transforma em um organismo supla-terrestre.
Graças aos jogos de cores concebe-se um tecido colorido de manchas que dão ao conjunto da tela uma expressão de unidade e de grande amplidão."